domingo, 14 de julho de 2013

Marcada - Por Erik Night (décimo primeiro capítulo)


Espero que gostem!

As luzes se acenderam em um rompante. Todos ao meu redor começaram a conversar e a rir normalmente. Eu e meus amigos nos reunimos em uma espécie de círculo para podermos ouvir um ao outro através das vozes altas que ecoavam pelo salão.
– Mais um Ritual ridículo destes e eu vomito – disse.
– Há, há. Nem vem, Erik. Você nem prestou atenção mesmo! - disse Drew.
– Tá, mas isso não quer dizer que deixa de ser um saco ter que vir pra cá ouvir Afrodite falando besteira.
– Quem liga para o que Afrodite fala? Eu ligo para o que Afrodite faz, ou para o que elaveste. – disse Thor – a garota é gostosa demais! Foi mal, Erik. Sei que vocês saíam, mas admita a verdade.
Eu dei de ombros.
– Cara, eu é que tenho que admitir que Afrodite estava tão gostosa que eu quase babei – afirmou Keith.
– Idem – disseram Cole e TJ.
– Vocês são babacas? Ela parecia uma vadia rebolando e mostrando a bunda! – protestou Drew.
– Exatamente – disse TJ, enquanto Cole concordava com a cabeça e olhava para Drew como se ele fosse retardado.
Eu concordava avidamente com Drew, ou... Nem tanto. Eu sabia muito bem que Afrodite era gostosa, mas hoje ela parecia mesmo uma vadia, e não no bom sentido da coisa.
Resolvi não me meter na discussão, deixei-os falando sobre Afrodite enquanto eu me distanciava do centro do círculo em busca de ar. Minha cabeça não parava de martelar, de um lado Zoey do outro, Afrodite. Eu estava começando a ficar asfixiado.
Não tive muito tempo para fazer isso, porém, logo alguém resolveu intrometer-se em meu momento de paz.
– Gostou do Ritual? – senti a mão de Afrodite em minhas costas enquanto ela me puxava para estar em frente a ela.
Ela segurava a mesma taça de vinho que tinha antes feito parte do Ritual, mas desta vez estava completamente cheia. Ela tomou um longo gole e me encarava como se esperasse a minha resposta. Reprimi um suspiro de frustração. Quando eu teria algum sossego?
– Claro – menti (às vezes eu agradecia muito ao fato de saber atuar tão bem). Nem ao menos havia prestado atenção ao Ritual, fiquei olhando para Zoey durante todo o tempo, mas Afrodite não precisava saber disso.
– Quer um gole? O vinho com sangue está maravilhoso – me ofereceu a taça com um sorriso tentador, mas eu recusei (quem sabe o que ela havia colocado ali dentro pra me chapar?). Ela fez um biquinho, contrariada e novamente reprimi um suspiro de frustração, aquela garota não se tocava.
Ela pareceu perceber o que eu estava pensando, pois, rapidamente, se recompôs e logo mudou de assunto.
– Erik, eu estive pensando seriamente em mudarmos um pouco as coisas – notei o duplo sentido na frase em um piscar de olhos, mas mesmo assim não consegui entender o que aquilo significava.
Muitas vezes já me perguntei se Afrodite estava comigo por realmente estar apaixonada, ou se apenas queria me usar como um objeto de desejo... Cara que merda, me deixe reformular esta frase: ou se ela apenas me queria para causar inveja nas outras.
Eu nunca descobri quais realmente eram as suas reais intenções, até agora.
Algo me dizia que ela não gostava mais de mim, mas Afrodite queria controle e ainda pensava que eu era aquele cachorrinho babão idiota que eu costumava ser. Bem... Vamos dizer que eu gostava das coisas desta forma, eu não queria que ela soubesse o que estava por trás da minha mente. Decidi entrar em seu joguinho e deixá-la pensar que estava no comando.
– Já estava começando a me perguntar quando você diria isso, Afrodite. Na verdade tudo está meio cansativo, muito repetitivo, não é a sua cara. Você não acha?
Ela riu de uma maneira muito forçada e logo respondeu:
– Estou cuidando para que tenhamos muita diversão em breve, acredite em mim, você verá.
Achei o comentário estranho, mas não me contive em responder sarcasticamente:
– Mal vejo à hora de isso acontecer.
O silêncio entre nós já estava começando a ficar desconfortável, não que falar com Afrodite não fosse, mas eu estava meio tenso com a sua presença. Ela era muito intimidante, às vezes.
– Sabe, foi muito legal de sua parte ter avisado Zoey sobre o sangue no vinho. - disse por fim.
Ela fez uma carranca.
– É tanto faz, eu fiquei meio que com pena dela, coitadinha... É uma novata que de repente teve sua Lua Crescente preenchida e é convidada para um super Ritual exclusivo, deve seu meio assustador. Ah, e reparou nas roupas dela? Eu tinha lhe dito mais cedo, eu sabia que ela viria de qualquer jeito, ainda bem que eu trouxe um dos meus vestidos. Eu estava querendo me livrar dele mesmo.
Seu comentário era maldoso, mas antes que eu pudesse responder com algo como:nela fica bem melhor que em você, Deino chamou Afrodite e disse em uma voz zombeteira.
– Dá pra acreditar que Zoey acabou de nos dizer que não sabia que tinha sangue no vinho? Que garota idiota, como se a gente não tivesse visto ela lambendo os beiços.
Eu encarei Deino em dúvida se ficava chocado ou com raiva.
Afrodite fuzilou a garota com os olhos, como se quisesse queimá-la viva.
– Deino, que tal você ficar na sua! – ela olhou para mim tentando falar qualquer desculpa, mas eu a impedi.
– Você disse que tinha avisado ela, Afrodite! – Deino, percebendo a burrada que havia feito, arregalou os olhos como se quisesse sair correndo para qualquer lugar.
– Ops! – falou Deino.
– Cala a boca, sua retardada! Já falo com você, não saia daí! Espera Erik, - segurou meu pulso quando eu me virei para ir embora - eu posso explicar...
– Não! Você mentiu Afrodite, disse que tinha avisado Zoey sobre o sangue no vinho – eu olhei em volta, todos estavam nos encarando embasbacados, menos... – cadê ela, por sinal? Deve estar super mal agora! Você sabe muito bem o quão ruim é ser um novato! Não tinha o direito de fazer isso! Não sei nem mesmo porque me surpreendo...
Tentei me recompor, mas eu não estava conseguindo. Não podia mais olhar na cara de Afrodite sem ter vontade de esbofeteá-la. Decidi sair para procurar Zoey.
– Alguém deve ajudá-la, e esse alguém sou eu. Nem pense em me seguir para tentar incomodá-la! Você já fez o bastante.
Ela apenas me encarava, sem ter o que dizer. Virei às costas e saí pela porta, direto na noite escura e estrelada.
Eu não sabia por onde começar a procurar, tentei me imaginar na mente dela, se eu fosse Zoey e estivesse super assustada com o sangue no vinho para onde eu iria? Mas não funcionou muito bem. Saí andando nervosamente e procurando por toda House of Night, será que ela correria para o quarto? Era o que eu faria.
Fui correndo em direção ao dormitório das garotas, ela não estava na entrada. Avancei um pouquinho mais e notei apenas uma garota loira sentada olhando um filme na HBO, reconheci-a vagamente da aula de sociologia vampírica, mas logo sua amiga apareceu com uma bacia enorme de pipocas e me lançou um olhar raivoso.
– Ei, você não pode ficar aqui!
– Desculpe... Mas você não viu se Zoey Redbird passou por aqui? - ela ficou pensativa por um momento.
– Zoey Redbird? Aquela novata com a Marca preenchida?
– É, essa mesma.
– Ela não passou aqui – disse a menina que estava sentada no sofá – eu não a vi passar por aqui, e olha que eu estou assistindo TV há um bom tempo.
– Viu, ela não esteve aqui, portanto caia fora – disse a outra.
– Ok, obrigada, ahn... – hesitei um pouco, tentando lembrar o nome da menina loira – Katherine.
– Por nada – respondeu.
Saí do prédio rapidamente e sem fazer muito barulho, estava começando a ficar frustrado, mas eu não iria voltar para o Ritual ou mesmo ir para o meu quarto sem encontrar Zoey. Eu fui apenas a lugares em que achei que ela estaria como a biblioteca, o portão principal e até mesmo o corredor no qual ela havia encontrado Afrodite e eu. Mas aparentemente eu estava enganado, ela não estava em nenhum destes lugares.
Fui perdendo as esperanças conforme o tempo passava e quando finalmente desisti e voltava de uma vez para o meu quarto pensando em me atirar na cama ouvi vozes vindas do muro Leste. Eu estava passando muito próximo dali, afinal era o caminho para o dormitório masculino, e meio que me assustei ao ouvi-las.
Eu não havia reparado que sentada em cima do muro Leste, conversando com um cara que eu não conhecia, estava Zoey. Eu me senti completamente estúpido por não ter notado os dois antes, eu iria ter passado por eles sem nem mesmo enxergar. Retardado!
Enfim... Decidi parar de me concentrar nas minhas retardadisses e caminhei muito quietamente para detrás de uma árvore, a fim de escutar a conversa. Tive tempo de pegar umas partes.
– Ei, ahn, Zo. Eu vim mesmo te pegar – disse o garoto. Ele era evidentemente humano e parecia ter a idade de Zoey, talvez um ou dois anos mais velho. Ele era loiro e usava uma roupa simples, jeans e camiseta, mas era sua expressão que me deixava em dúvida. Ele estava meio sonolento, parecia bêbado. Que babaca. Não sabia que Zoey pudesse ter um amigo assim.
De repente fiquei nervoso... Será que era o namorado dela?
Eu não achei que Zoey pudesse ter um namorado, na verdade, aquilo nem havia passado pela minha cabeça, e eu fiquei realmente triste.
– Não – respondeu Zoey, cortanto minha tagarelice interior.
– Ahn? – disse o garoto.
– Heath, olhe para a minha testa.
O garoto, Heath, fez o que ela pediu e assentiu levemente.
– Sim, você tem essa tal meia-lua. E está colorida, o que é esquisito, porque não estava colorida antes.
– Bem, agora está. Muito bem, Heath, concentre-se. Eu fui Marcada. Isso significa que meu corpo vai passar pela Transformação para eu me tornar vampira.
Pude notar o garoto encarando, embasbacado, a Marca de Zoey e, logo depois, para o corpo dela. E ok, eu sabia que Zoey era muito gostosa, principalmente com aquele vestido, mas eu não gostei muito da maneira como ele encarava os peitos e as pernas dela. Tive vontade de dar um soco naquela cara de boboca que ele tinha.
– Zo, - Zo? Que apelido era aquele, pelo amor de Deus? - seja lá o que estiver acontecendo com o seu corpo, para mim, tudo bem. Você está muito gostosa. Você sempre foi linda, mas agora está uma verdadeira deusa – reprimi uma risada perante aquelas palavras. O cara não sabia nem dar uma cantada. Ele tocou o rosto dela e pude ver que ela correspondeu ao contato, ficando com a expressão mais suave. Ela aparentemente gostou do que ele dissera.
– Heath, desculpe, mas as coisas mudaram.
– Para mim, nada mudou – e para a minha surpresa, Heath agarrou Zoey e a beijou.
Eu não conseguia desviar o meu olhar, estava com muito ciúme para fazê-lo. Eu queria muito estar no lugar de Heath naquela hora.
Zoey se afastou rapidamente, porém.
– Pare com isso, Heath! Estou tentando falar com você.
– Que tal você falar e eu beijar?
Zoey estava prestes a responder, mas sua expressão mudou de repente, como se quisesse ser beijada novamente, e foi o que Heath fez. Voltou seus lábios aos dela e começou a beijá-la lentamente.
– Ai! Droga, Zoey. Você me arranhou! Merda, Zo, você me fez sangrar. Se não queria que eu a beijasse, era só dizer.
Heath estava muito ocupado lambendo o ferimento para notar a cena que eu vi em seguida.
Zoey estava encarando intensamente a ferida no pulso de Heath, hipnotizada. Ela ficou muito, muito sexy de repente, e com uma voz irreconhecível disse:
– Eu quero...
– Sim... – Heath respondeu imediatamente, como em um transe – sim... O que você quiser. Eu farei o que você quiser.
Zoey se aproximou lentamente e lambeu o sangue que estava nos lábios de Heath, e eu só podia imaginar o que o garoto sentiu naquela hora, porque eu acho que eu estaria da mesma maneira. Ela estava completamente diferente, parecia uma mulher poderosa e... Bem, do jeito que somente as vampiras poderosas e muito sexy poderiam ser. Usando de seus atributos sem piedade ou remorso.
– Mais – exclamou.
Não conseguindo resistir a ela, Heath estendeu o braço sem nem mesmo exitar, dando caminho livre para que Zoey pudesse lamber a ferida, o que a fez sangrar mais (por sinal, a saliva dos vampiros e novatos tem substâncias cicatrizantes, mas também podem fazer o oposto) e enquanto ela estava com os lábios pressionados contra o pulso dele ouvi uma terceira voz exclamar do lado de fora do muro:
– Ah, meu Deus! O que você está fazendo com ele? – aquilo foi como um balde de água fria em Zoey, que largou a mão de Heath tão rápido que ele se assustou. - Afaste-se dele! Deixe-o em paz!
Eu não sabia de quem era a voz, apenas que vinha de uma garota.
– Vá – disse Zoey – vá embora e não volte nunca mais.
– Não.
– Sim. Vá embora daqui.
– Deixe-o ir embora! – gritou a garota novamente.
– Kayla, se você não calar a boca eu vou voar aí e sugar cada gota de sangue desse seu corpo estúpido de traidora! – berrou Zoey irritada.
Eu não vi a expressão da garota, mas eu tenho certeza de que ouvi seu grito apavorado de medo. Me segurei muito para não rir.
– Agora você tem que ir embora também – Zoey se referiu à Heath desta vez.
– Eu não tenho medo de você, Zo.
– Heath, eu tenho medo de mim por nós dois.
– Mas eu não me importo com o que você fez. Eu te amo, Zoey. Agora mais do que nunca.
Coitado daquele garoto, mal sabia ele que, naquele momento, estava definitivamente carimbado.
– Pare com isso! – Zoey gritou, assustando a mim e ao garoto. E numa voz mais calma – vá, por favor, pois Kayla provavelmente chamará os tiras agora mesmo. Nenhum de nós quer isso.
– Está certo, eu vou embora. Mas não vou ficar longe – beijou-a novamente e logo desceu do muro, onde desapareceu da minha vista completamente.
Eu me aproximei um pouco mais de onde Zoey estava e me enterrei mais nas sombras da árvore, a fim de não revelar a minha presença, por isso só a vi quando ela se aproximou do lugar onde eu estava e sentou-se pesadamente no chão e, poucos segundos depois, um pequeno gato laranja apareceu e recostou-se em seu colo.
Estava prestes a pigarrear ou assoviar para chamar a sua atenção quando a ouvi chorar. Aquilo era demais para mim, fiquei tão mal com aquilo que paralisei completamente, dando um tempo para ela liberar tudo aquilo que estava sentindo. Eu apostava que era a primeira vez que ela fazia isso, pois longos minutos se passaram até que, finalmente, começou a soluçar baixinho e se acalmar.
Eu pensei na crueldade que Afrodite tinha feito e no que acabara de ver com o tal Heath.
Devia ser um saco ser uma caloura especial, sei lá, com a Marca completa.
Peguei o lenço que estava em meu bolso e nem tive tempo de ficar nervoso por ser a primeira conversa real que teria com ela, na verdade eu estava calmo demais, tinha apenas o objetivo de reconfortá-la. Por isso tive vontade de rir do seu susto quando eu cheguei repentinamente ao seu lado e disse:
– Tome. Parece que você está precisando.
O gato que estava em seu colo grunhiu (ou, seja lá o que os gatos fazem) para mim, enquanto Zoey olhava para cima, me notando pela primeira vez, com os olhos e o nariz completamente vermelhos de chorar.
– O... Obrigada – ela disse pegando o lenço da minha mão.
– Sem problema – respondi.

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