segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Marcada - Por Erik Night (sétimo capítulo)


Sabe quando você tem aquele pressentimento que te manda fazer uma coisa, a coisa que daria mais certo e mais fácil, e aí chega o seu coração e manda você fazer exatamente o contrário? Pois é.
Seja bem vindo ao meu dilema.
Como pode ser? Essa novata estranha chega do nada naquele corredor escuro, e da noite pro dia consegue roubar a atenção de todos os caras da House of Night e da metade dos meus pensamentos, sem ao menos fazer um movimento. Não, mas ela ainda foi pior, ela nos flagrou, eu e Afrodite, numa cena um bocado deprimente. E eu nem tinha culpa disso! Estava lá somente para deixar ainda mais claro a Afrodite que nosso relacionamento não existia mais. Ótimo, explique isso à Zoey!
Boa sorte com isso.
E o pior era que cada vez que eu olhava em seus olhos (foram três vezes até agora) eu parecia me perder ainda mais neles.
Eu precisava arrumar um jeito de falar com ela, de conhecê-la. Ver com meus próprios olhos todos os seus detalhes e ouvir o som da sua voz, e ter a certeza de que uma vez por todas eu havia deixado Afrodite para traz e seguiria em frente, sendo eu mesmo e parando de jogar e agir como um estúpido. Pois já estava de saco cheio disso. Estava na hora de realizar algumas mudanças.
Isso soava quase como um desafio, aliás, era o meu desfecho. A conquista de Zoey era algo que todos cobiçavam e que por uma razão, eu também. Eu precisava dela. Sim, eu sei que esses pensamentos sujos não me levariam a nada e blá-blá-blá, mas e daí?
Mas, e se ela fosse como Afrodite? Tava um pouco na cara que não era. Só seu jeito modesto de agir ou andar demonstravam isso. Ela era diferente, e isso me atraía.
Senti um empurrão repentino e fui derrubado por Thor que quase caía no chão de tanto rir.
- Isso não é engraçado, Thor! – Disse com raiva.
- Pra você. Tinha que ver a sua cara parecia estar no espaço. - Replicou.
- Eu estava distraído, só isso. - Eu devia contar quantas vezes disse isso hoje.
- Essa já não cola mais Erik, tá distraído o dia todo, aliás, nesses últimos dias você parece nem estar aqui, o que ta rolando?
- Não sei, é como se eu não conseguisse me concentrar direito. – disse constrangido.
- Bobagem, é só querer que você consegue, quer ver? Vamos, levanta.
Antes de levantar lancei-lhe um olhar que deixava claro todos os meus pensamentos sobre isso, peguei meu florete e me posicionei, apontando a perigosa (ou nem tanto) arma para Thor.
Thor era um bom esgrimista, um dos melhores da nossa turma. O seu jeito observador o ajudava a adivinhar o perfil de cada adversário e a prever a forma de ataque e seus movimentos. Claro que não tinha graça tentar derrotar Thor, a mim pelo menos. Eu não era um péssimo esgrimista, mas também chegava longe de ser bom, eu era regular. E Thor sabia muito bem disso, usando suas habilidades para prever meus movimentos e sempre me derrubar quando tinha chances.
Ficamos nas posições iniciais, e logo Thor tentou me fazer cair novamente, mas eu fui um pouco mais rápido, abaixando a cabeça para que o florete passasse de raspão por cima dela.
- Muito bem garotos, eu estou gostando do entusiasmo de vocês. – Disse Dragon Lankford, o professor de esgrima aqui da House of Night.
Eu sempre me surpreendia com Dragon, sua estatura relativamente baixa para um vampiro adulto era a primeira coisa notada por todos, fazendo-o não ser muito notado ou visto como uma ameaça. O primeiro erro destas pessoas (eu fazia parte deste grupo, devo avisar), pois quando estava em posse de seu florete, a principal arma de um esgrimista, ele era um deus, com movimentos rápidos e precisos que humilhavam qualquer vã tentativa minha de melhorar.
- Obrigado senhor. - Eu disse, e me arrependi profundamente, pois Thor aproveitou o meu pequeno momento de distração para me lançar outro golpe, o que me fez cair (de novo) no chão.
Com um olhar vitorioso disse:
- Pensou que me derrubaria?
- Tem razão, não sou páreo para o "Grande Thor" - complementei as duas últimas palavras fazendo aspas com os dedos.
- Tem razão, não é mesmo. Vai ter que praticar muito para chegar no meu nível Erik, nem sei porque ainda tenta.
- Há, Há. Engraçado Você. – Disse fingindo dar-lhe um soco no estômago.
Fomos na direção dos banheiros para tomar uma chuveirada rápida, pois suávamos demais nessa aula. Eu particularmente não entendia como Brian, um garoto meio esquisito da turma de esgrima, conseguia sair normalmente sem nem ao menos olhar para o banheiro, nojento.
Depois de pronto, me despedi de Thor em me dirigi, sozinho, para a aula de literatura, que também passou como um borrão, aliás, todas as aulas aqui da House of Night eram assim, eu nunca fiquei entediado em quase quatro anos de escolaridade. Certamente o que ajudou muito no esplendor da aula foi termos estudado Shakespeare, o que me deixou fascinado, como sempre.
Fui praticamente correndo para encontrar meus amigos na hora do almoço, onde todos já estavam sentados, conversando e rindo sobre coisas banais, até que Drew disse:
- Erik! Como foi a apresentação para os terceiranistas? – Automaticamente Cole e TJ pararam de jogar comida um no outro para prestar atenção.
- Você apresentou na turma da nossa Zoey-gostosinha? – perguntou Cole. Depois de ouvir aquilo, senti meu humor vacilando, realmente odiava quando algum deles se referia à Zoey daquela maneira.
- Pare de chamá-la desse jeito! – Quase berrei, fazendo com que todos me olhassem assustados, menos Drew claro, que me olhava sabiamente.
- Qual o problema Erik? Você nunca falou nada sobre isso. – Disse TJ. Foi aí que eu me lembrei que nenhum dos meus amigos (menos o Drew), sabia da minha estranha obsessão por Zoey.
- Problema nenhum, eu estou apenas dizendo que quando vocês falam assim soam muito superficiais, não posso acreditar que estão repetindo a mesma baboseira de ontem. Será que nada do que eu ou a professora Nolan dissemos adiantou? – Tentei remendar.
Cole e TJ me olhavam com um pouco de vergonha.
- Foi mal, é que nós apenas...
- OK. – Eu os interrompi. Não queria que ficassem chateados com essa desculpa sínica que eu havia dado. – Apenas parem com isso, está bem? E então, mudando de assunto... Quanto à apresentação. – Qualquer resquício de tristeza havia sumido dos seus rostos. – Bem... Sim, Zoey estava lá.
- E então... – Cole disse ansioso. – Merda Erik, fala logo. – Eu ria internamente por causa do meu suspense bobo. Decidi dar a dica.
- Bem, nada demais, ela apenas ficou me encarando o tempo inteiro. – Depois de dizer isso eu achei ter visto piedade nos olhos de Cole.
- Claro, seu lesado. Você estava apresentando um monólogo na frente da sala, como ela não olharia pra você? – Disse TJ.
- Foi diferente. – Tentei me justificar. – Ela olhou pra mim depois que eu havia acabado também.
- Talvez ela tenha gostado de você, Erik. – Disse Drew.
- O quê? – Interrompeu Cole. – Claro que não é isso Drew, como ela poderia gostar do Erik se ela nem ao menos o viu? – Há, boa pergunta, e eu não podia responder.
- Boa pergunta. – Disse Drew, adivinhando meus pensamentos novamente. – Mas não é impossível, metade das garotas aqui da House of Night são apaixonadas pelo nosso “Erik garanhão”. – Disse me dando um empurrão no ombro. Eu estava sorrindo amplamente da cara que Cole fez ao ouvir aquilo.
- Nossa, e você é tão convencido que... – Cole não terminou de falar a frase, apenas ficou tenso de repente e olhava por cima da minha cabeça, como se houvesse alguém atrás de mim. Antes de eu poder me virar para ver quem era eu ouvi uma voz familiar e irritantemente melosa.
- Ei vocês, garotos – falou Afrodite.
- O que quer agora? – perguntei rudemente.
- Puxa Erik, é ótimo ver você também. E eu não quero nada demais, apenas preciso da ajudinha de vocês.
Pela deusa, eu havia esquecido totalmente sobre isso, aliás, parecia que todos ali haviam esquecido que todo o mês, antes de todos os Rituais de Lua Cheia, nós ajudávamos Afrodite a arrumar o privado e disputado ritual das Filhas e Filhos Negros.

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