quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Marcada - Por Erik Night (oitavo capítulo)

Segunda, dia de Fanfic... Boa leitura!

Eu realmente não queria ajudá-la com aquele maldito Ritual, até mesmo me preparei para dizer a ela, juro que me preparei, mas sentado de frente para seu esbelto e definido corpo como eu estava, não pude evitar perceber como sua saia marcava em seu estreito quadril, expondo muito de suas pernas que eram cobertas por uma bota preta a partir do joelho, e é claro que ela estava matadora, Afrodite sempre clamou a aparência em primeiro lugar, não importa em quais situações difíceis estejamos o importante é se estamos bonitas para resolvê-las dizia ela praticamente todos os dias, quando eu costumava reclamar de suas demoras em frente ao espelho.
Notei também como ela puxou a saia para cima para parecer ainda mais curta, mais até do que a última em vez que a vi, provavelmente ela fez de propósito, e devo dizer que funcionou, suas pernas ficaram fantásticas com aquela saia. Ela me fez lembrar todas as vezes que eu e Afrodite... Bem eu não podia pensar naquilo agora.
Procurando desesperadamente algo em que me focar, que não fossem suas pernas ou seios, fiquei surpreso em encontrar seus olhos. Ela me olhava de um jeito malicioso, como se soubesse exatamente o que se passava na minha mente, mas eu não me importei, continuei concentrando minhas energias em seus olhos, os lindos olhos verdes de Afrodite.
Algo como um balde de água fria na minha espinha de repente me fez congelar, quebrando o encanto sombrio que Afrodite me lançava.
Afrodite não tinha olhos verdes! Muito longe disso, eles eram de um limpo e claro azul, que se destacava dos demais que às vezes eram apagados e sem brilho. Mas então por que eu havia imaginado olhos verdes em Afrodite? Onde eu os havia visto antes?
Realmente a mistura havia ficado tremendamente ridícula. Aqueles olhos em Afrodite ficavam disformes e deslocados, mas eu não conseguia parar de imaginá-los, como se eu buscasse desesperadamente ver algo ou alguém que eu não pudesse conseguir naquele momento e colocá-la no lugar de Afrodite.
Foi por isso que eu acabei criando forças para realmente confrontar Afrodite (daqui em diante eu passaria a respeitar devidamente minha imaginação maluca) e dizer:
- Você por acaso não tem outro grupinho de bajuladores ou cachorrinhos que farão suas vontades assim que estalar seus dedos?
Ela revirou tanto seus olhos, que por um momento eu achei que eles fossem pular para fora.
-Não, Erik, eu não tenho cachorrinhos que fazem tudo que eu quero, eu tenho vocês, um bando de babacas que ficam aí parados enquanto há muitas coisas a serem feitas. Ou pensam que eu e as meninas poderemos carregar todas aquelas coisas pesadas do Templo? – perguntou indignada – E ainda cobrir tudo a tempo de nos vestirmos e estarmos no horário certo para o Ritual e...
-OK, certo, tudo bem! – eu praticamente berrei de impaciência. Ela apenas me olhou de forma chocada.
– Tudo bem. – disse num tom normal – Nós vamos ajudá-la.
- Mas precisamos comer primeiro! – Disse Cole. Eu até havia esquecido que ele estava lá.
- Não seja idiota seu estúpido! – exclamou Afrodite – nós teremos comida depois do Ritual, ou será que esqueceram? Será que preciso pensar em tudo? Estamos perdendo tempo aqui discutindo – bateu seu dedo indicador no pulso, como se houvesse um relógio imaginário ali. Como ninguém se moveu ela revirou os olhos novamente e com ainda mais impaciência disse – vamos antes que o intervalo do almoço termine!
Como um bando de chiuauas de bolsa rabugentos (pelo menos era assim que eu me sentia), nós seguimos Afrodite para o Templo de Nyx, deixando para trás o delicioso almoço e meu bom humor.
Não demorou muito para chegarmos à linda estátua de Nyx que ficava a alguns metros do Templo, e embora eu a tivesse visto incontáveis vezes, nunca deixava de ficar abismado com sua beleza. Ela tinha um padrão diferente de todas as estátuas que eu um dia já havia visto, e admito foram muitas, afinal de contas minha mãe costumava passar horas, sentada em seu atelier, com suas mãos sujas de lama ou gesso, moldando e remodelando caricaturas, até que ficassem perfeitas aos seus olhos. Eu as adorava, lembro-me perfeitamente de me sentar em seu colo, quando era pequeno, para poder me juntar a ela na obra. Mas elas sempre acabavam em caretas, com grandes narizes e olhos esbugalhados. Ríamos e brincávamos o tempo todo.
Aquela magnífica visão da deusa, sentada sobre a cristalina água da fonte, com seus cabelos ao vento, mesmo feitos de pedra pareciam movimentar-se, jazendo uma delicada lua crescente em suas mãos, me fizeram sentir muito vazio. As memórias de minha vida antes e depois de ser Marcado encheram e conturbaram minha mente.
Vi meu pai atirado e imóvel em um canto da rua, enquanto não conseguia mais reunir forças para levantar, por causa de toda a porcaria da bebida que havia ingerido.
Vi minha mãe gritando desesperada por ajuda.
Vi também o momento em que o Vampiro Rastreador apareceu misteriosamente na minha frente e disse as temerosas palavras que mudaram minha vida.
Por sorte nenhum dos meus amigos ou Afrodite perceberam o tamanho da minha tristeza, e firmemente segui andando, de cabeça erguida. Seja o que minha vida havia se tornado ali na House of Night, com certeza era bem melhor do que o inferno alcoólico no qual eu vivia.
-... E poderemos ver toda a maratona do Star Wars que queríamos ver final de semana passado, o que acha Erik? – Estava dizendo Drew. E com um susto percebi que todos estavam falando há um tempinho. Eles me olhavam com expectativa.
- Desculpe Drew, sobre o que estavam falando mesmo? – perguntei.
- Hello, Terra para Erik. Estava viajando de novo? – disse Cole com um risinho. Mas ninguém prestou atenção nele.
- Nós estávamos discutindo sobre a maratona de Star Wars que não pudemos assistir na semana passada, e que veremos quando a sala estiver desocupada. – respondeu Drew.
- Maratona de Star Wars? – perguntei sorrindo. Subitamente meu mau humor desapareceu. – Claro, dou tudo por uma maratona Star Wars! Quando vamos assistir, amanhã?
- Não sabemos – respondeu Thor – a gente depende da presença de todas as pessoas que irão. Como disse antes, na semana passada o tosco do TJ não pôde ir, lembra? Ele tinha que treinar para a competição.
- Ei! – retrucou TJ – não me culpem por isso.
- Ah, me lembro sim. Mas eu acho que agora todos nós poderemos assistir.
- Sim, é o que parece – respondeu Thor.
Encerramos a conversa assim que vimos a cara ranzinza de Afrodite, que logo explodiu em uma risada sarcástica e terrível.
- Deixem-me adivinhar quantas malditas vezes vocês assistiram essa maratona Star Wars? Pelo menos 20? 30? Estou perto? – disse zombeteira. E eu dava graças à deusa por tê-la largado.
- Há! Engraçadinha você Afrodite – retrucou Cole – e não foram 20 ou 30 vezes, acredito que não chegaram nem à dez.
- Hã, acho que eu já passei de dez, pessoal – disse meio sem graça. Afrodite bufou.
- Nossa! Vocês são um bando de nerds! Não existe qualquer outro melhor programa no planeta?
- Devo dizer que comparado a Star Wars não, definitivamente não. – disse Thor.
- Repito. Bando de nerds! Ugh. Não contem com a minha presença ou de qualquer espécime do sexo feminino nessa bela seção de guerras no espaço! – disse fingindo entusiasmo.
- O correto seria guerra nas estrelas, mas você está certa, com certeza já sabíamos que você não gastaria seu precioso tempo assistindo qualquer programa “nerd” com a gente. – disse Drew respondendo do mesmo jeito sarcástico, fazendo aspas com as mãos na palavra nerd. Como se realmente tivéssemos pensado em convidar Afrodite.
Se ela entendeu o que Drew realmente quis dizer não demonstrou, apenas jogou os cabelos para trás de um modo superior e voltou a andar. O que nos fez parar de falar em Star Wars perto de Afrodite, na verdade paramos de falar totalmente, ela conseguia estragar qualquer assunto.
O clima estava leve enquanto carregávamos as mesas de jogos do enorme salão para um canto. Como estávamos de cinco pessoas para carregar as mesas, nos separamos em duas duplas, eu e Drew carregávamos as mesas de sinuca, e TJ e Cole as demais (que eram as mais leves, mas fazer o que se perdemos no discordar?!) Thor cobria as mesas alinhadas com o pano preto. Afrodite dava as ordens para que tudo estivesse perfeito.
Mas conforme as mesas eram apagadas pelo fosco do tecido, mais aquilo me lembrava um mausoléu, cheio de preto e mais preto e mais preto e mais preto. Por mais que eu dissesse a palavra mais, ela não era suficiente, aquilo estava muito preto, tanto que eu não consegui enxergar até que, tranquilamente, Enyo e Deino acendiam as velas que iluminariam o Ritual.
Quando finalmente terminamos de arrumar o local, nos sentamos pesadamente no chão, esgotados, mas ainda rindo e combinando os últimos detalhes para a maratona Star Wars.
- Afrodite, ainda vai precisar da gente? – perguntou Cole.
- É, podemos voltar para a aula agora? – completou TJ.
- Claro, claro. Podem voltar sim. Acho que não preciso mais do trabalho de vocês. – então ela fez uma pausa, pensativa – Menos você Erik, eu quero dar uma palavrinha com você a sós.
Ela nem ao menos esperou minha resposta, simplesmente se virou e começou a andar na direção de uma salinha ali perto, onde ficava a comida que seria servida mais tarde. Foi minha vez de revirar os olhos.
- Fazer o que, vou ter que ir pessoal, vejo vocês mais tarde então.
- OK, a gente se vê – respondeu TJ. Cole e Thor me olhavam com um pouco de pena, mas concordaram em ir. Drew foi o único que exitou.
- Você vai ficar legal? – perguntou.
- Claro, não deve ser nada demais. E eu não vou cair em qualquer armadilha que ela esteja bolando dessa vez. – respondi com firmeza.
- Tudo bem, boa sorte. – e com isso ele saiu.
Com um grande suspiro fui na mesma direção de Afrodite, encontrando-a de frente para a geladeira pegando sua vitamina de sempre. Quando ela me viu deu um grande sorriso.
- O que quer Afrodite? – disse rispidamente.
- Nossa, não precisa ser tão mal educado. Só quero conversar.
- Olha Afrodite, eu acho que já lhe disse que não... – mas ela me interrompeu.
- Não é nada disso seu estúpido, eu quero falar sobre a garota nova. – isso despertou meu interesse.
- Garota nova?
- É, essa tal de Zoey Redbird. Parece que ela tem essa estranha Marca e é a nova aluninha favorita de Neferet e blá, blá, blá. – a sua inveja era palpável.
- Não entendo, onde quer chegar? – mesmo sabendo a resposta não me contive em perguntar.
- Então, eu a convidei para o Ritual. Mas não sei se ela vem.
- Oh, é mesmo? – fingi surpresa. – e por que acha isso?
- Talvez ela seja uma idiota como a nova coleguinha de quarto dela.
- Não fale assim Afrodite, você mal a conhece. – estava me referindo à Zoey, mas Afrodite achou que eu falava de Stevie Rae.
- Claro que eu a conheço, ou bem... O suficiente pra saber o nível em que ela está. – Lembrei-me na hora do que ela falava.
- Você não vai forçá-la a ser sua geladeira novamente vai? – perguntei desconfiado.
- É claro que não! Enyo arrumou um novo lanchinho pra gente.
- E posso saber quem é? – perguntei preocupado.
- Claro, é aquele perdedor do Elliot. Juro que até sinto nojo de tomar o sangue dele e... – eu a interrompi.
- Espera, você disse que Zoey vai estar aqui mais tarde...
- Eu disse talvez – repetiu.
- Ok, talvez ela esteja aqui, que seja. Mas se ela vier, não dará sangue para ela não é?
- Ora não seja estúpido, é claro que não vou dar sangue à ela, ao menos não se ela não quiser. Eu vou perguntar a ela mais tarde.
- Tudo bem, assim é melhor.
- O que foi Erik, está todo preocupado com a novata por quê?
- Nada, é que eu sei o quão ruim é ter de tomar sangue no primeiro Ritual. – tentei justificar.
- Tudo bem, então não precisa mais se preocupar com isso, como já disse. Eu vou perguntar à ela.
- Tudo bem – repeti. – acho que vou indo, se era sobre isso que queria falar comigo.
- Bem, também pensei em outras coisas... – disse se aproximando lentamente, passando suas unhas em meu peito, a sensação me enviou calafrios. Mas rapidamente retirei suas mãos de perto de mim.
- Acho que agora não é hora pra isso Afrodite, eu tenho que voltar pra aula. – Seu sorrisinho virou uma carranca.
- Certo Erik, volte para a droga da sua aula. – com isso ela saiu da sala. Jurei ter visto fumacinhas saindo de suas orelhas. O pensamento me fez rir como um idiota.

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