domingo, 26 de maio de 2013

Marcada - Por Erik Night (décimo capítulo)

Boa leitura!

Zoey entrou calmamente, mas parou assim que teve uma boa visão do local.
E eu podia imaginar perfeitamente o que ela sentia dentro daquelas paredes escuras e asfixiantes, cobertas com o pano preto que escondia tudo, todas aquelas formas desfiguradas por baixo dele ficavam ainda mais evidentes, e embora eu soubesse que aquilo era nada menos do que as mesas de jogos, não pude deixar de admitir que fosse arrepiante, ainda havia o cheiro dos incensos e das velas sufocando nossos narizes. Eu mesmo, que estava super acostumado com os Rituais das Filhas das Trevas, me assustava de vez em quando.
Ela estava paralisada há uns bons dois minutos e eu estava começando a me perguntar se ela sairia correndo, mas não, Zoey olhava firmemente para o centro do círculo, onde os meus amigos estavam com todos os outros, rindo de alguma piada que provavelmente Cole ou TJ havia contado.
- Aí está você, Zoey! – Afrodite gritou do outro lado do salão, fazendo Zoey automaticamente focar seus olhos nela.
Afrodite andou calmamente em nossa direção, mostrando toda a confiança e a graciosidade que tinha, e embora estivesse tremendamente gostosa esta noite não consegui tirar os olhos de Zoey, que registrava todas as informações brandamente e sem dizer nenhuma palavra. Até aquele momento fiquei em dúvida se quem estava mais calma era Afrodite ou ela própria.
- Erik, obrigada por receber Zoey. – Ela parou bem ao meu lado e eu fiquei tenso, imaginando o que ela iria fazer. Talvez mostrar a Zoey que estava no comando daquilo e humilhá-la, como ela deixou escapar mais cedo, logo antes de tentar remendar, ou ainda tentar impor em público a nossa antiga relação, sabendo que eu não iria provocar uma briga com todos olhando - Daqui pra frente é comigo – mas ela não fez nada daquilo, me surpreendeu apenas ao tocar levemente meu braço com a mão esquerda, a ação era inocente perante qualquer desavisado, mas mesmo assim eu não gostei, já havia dito a ela para não fazer nada que insinuasse nossa antiga relação, muito menos na frente de Zoey. Algo me disse que ela fez aquilo de propósito.
Eu mal olhei em sua direção, porém, estava mais preocupado com o que Zoey pensaria de mim, já não bastava o incidente no corredor que me atormentava diariamente, queria apenas esquecer aquilo e seguir em frente.
E sem deixar que Afrodite se aproveitasse mais um pouco daquele momento frágil, puxei meu braço do seu alcance (não fui muito rude, mas também nem tão suave assim) para deixar claros os meus sentimentos. E antes de me afastar para deixá-las irem se trocar no banheiro, eu olhei na direção de Zoey e sorri, não esperava fazer aquilo tão genuinamente mas não pude me conter.
Só que não esperei para ver sua reação, virei às costas e me afastei, indo em direção ao centro do círculo, onde os meus amigos estavam sem dúvidas tentando ouvir a conversa.
Eu odiava ser o centro da novelinha deles.
- Estão se divertindo? – perguntei.
- Na verdade eu não consegui ouvir a conversa toda – resmungou Cole, admitindo estar ouvindo a conversa sem vergonha alguma.
- Devia se envergonhar – disse Drew, adivinhando meus pensamentos.
- Olha quem fala! – defendeu-se Cole – você era quem mais estava tentando ouvir.
- Mas isso é diferente, eu estava tentando ouvir para ajudar o Erik, você só queria ver a Zoey.
- Nem tente se remendar Drew, não pode me dar lição de moral dessa vez!
- Ok, pense o que quiser, Cole, mas eu vi o que ninguém mais reparou: o fato de que Zoey não tirou os olhos do Erik nem por um segundo.
Aquilo me interessou instantaneamente.
- O quê?!
- Isso mesmo, Erik, ou não reparou em nada? – Thor disse, intrometendo-se na conversa.
Pensei no que Drew e Thor me disseram, realmente estava muito ocupado admirando as feições de Zoey e me afastando de Afrodite para perceber alguma coisa, idiota!
- Hum... Não! – admiti. Podia sentir um sorriso se formando em meus lábios conforme eu cogitava a ideia de ela se atrair por mim também.
- Ah! Olha só a cara de felicidade dele! – exclamou Cole – Não consegue nem se segurar.
Eu estava prestes a responder para Cole, mas meus olhos rapidamente captaram uma movimentação vinda da porta do banheiro, olhei para o lado e digo que minha boca só não abriu na hora por que... Bem, eu acho que minha boca estava aberta naquela hora.
Afrodite saía do banheiro na companhia de Zoey, que seguia logo atrás, e sua cara carrancuda era engraçada, mas eu não prestava atenção nela, aliás, tudo no salão pareceu se apagar do meu cérebro, só o que eu conseguia enxergar era Zoey. E oh, ela estava fantástica naquele vestido, não era vulgar ou mesmo comportado demais, batia logo acima dos joelhos e tinha uma gola mais arredondada e pendurada nela, nas mangas e na barra do vestido estavam pequenas pedras vermelhas.
Reconheci o vestido como sendo de Afrodite, me lembrava vagamente de já tê-la visto usando ele, mas em Zoey ficava muito melhor, não sabia explicar o motivo, mas tudo parecia ser mais certo em relação à Zoey.
Por outro lado ela não notou que eu a estava observando, mas reparei que Afrodite, sim. Decidi não me abalar com isso, havíamos terminado mesmo, não haveria problema em olhar outra garota.
Zoey rapidamente se juntou ao círculo, ao lado de Deino e Enyo, que sorriam de uma forma muito falsa e logo começaram a conversar com ela. E seja lá o quê fosse, acho que não seria um assunto muito produtivo, provavelmente iriam assustá-la ainda mais... Não era à toa que tinham os nomes assim.
Percebi que ao meu lado todos os meus amigos estavam conversando e rindo, e eu não conseguia prestar atenção neles, aliás, eu achava que eles estavam era rindo da minha cara por não tirar os olhos de Zoey, mas eu não me virei para ter certeza. Nem precisei realmente, pois logo depois os incensos foram sendo acesos por Pemphredo e a música começou a tocar muito alto, fazendo todos eles pararem a conversa e se focarem no Ritual que começava.
E bem, a batida da música era horrível, o cheiro dos incensos, também (aliás, eu era super contra o uso da maconha neles). E pra piorar tudo, Afrodite começou a dançar, entrando no círculo de uma forma muito sexy, hum... Aquilo não me parecia mais tão sexy, parecia mais como olhem pra como eu balanço minha bunda! E me enojava, (revirei meus olhos) não conseguia mais olhar pra ela, por isso me ocupei com algo realmente interessante.
Creio que já saibam pra quem eu estava olhando naquela hora...
Ela encarava Afrodite de uma maneira estranha, como se quisesse rir de sua performance ou algo assim, mas era muito educada para fazê-lo. Imaginei não pela última vez o que ela estaria pensando, se estava com medo e assustada ou se estava fazendo aquilo para irritar Afrodite, o que eu considerei uma aposta muito boa, eu particularmente adoraria ver a carranca de Afrodite, era tão hilário, como se alguém realmente se importasse com ela.
Em outros Rituais como este todos, frequentemente, babavam por Afrodite, achando que ela era a coisa mais quente do mundo... apenas eu tive a sorte de descobrir que ela não era, até agora.
Aparentemente Zoey não conseguiu ficar a admirando por muito tempo, ela começou a olhar em volta como se procurasse alguma coisa.
E eu sabia que nossos olhares iriam se encontrar, sua cabeça estava virando lentamente em minha direção. Eu poderia ter desviado o olhar, fingindo estar apreciando a ridícula apresentação de Afrodite, mas por uma estranha razão eu deixei de ouvir a música que tocava com sua batida terrível (assim como Deino, hehee) deixei também de sentir o aroma amargo de maconha que estava no ar e parei de prestar atenção em tudo o que estava à minha volta, não encontrava nenhuma célula do meu corpo que quisesse parar de olhar para Zoey, e não me pergunte a razão, pois eu não tenho a resposta, eu não conseguia desviar o meu olhar do dela, nem mesmo quando nossos olhos finalmente se encontraram e eu notei seu rosto ficar avermelhado (ela fazia muito aquilo, percebi). Ficamos nos encarando pelo que pareceu uma eternidade (no bom sentido), e eu estava decidindo se acenava para ela ou se apenas dava um sorriso quando a música de repente parou e ela voltou a prestar atenção em Afrodite, que se movia em direção à mesa de oferendas a Nyx.
Irritado, forcei-me a olhar para ela, que estava com um castiçal roxo em uma mão e um punhal na outra. Começou a largar os dois objetos para pegar a grande vela que estava em cima da mesa e logo andou ao redor do círculo em direção ao primeiro elemento que seria personificado, o Ar, representado por uma vela amarela.
Todos nos viramos para o leste e esperamos Afrodite recitar o seu chamado ao elemento, sua voz foi levemente notada pela minha mente.

Ó ventos de tempestade, em nome de Nyx eu os convoco,
Esparjais vossa bênção, eu vos peço,
Sobre a magia que aqui será trabalhada!

Enquanto Afrodite se dirigia à próxima vela que personificaria o Fogo, nos viramos para o sul.

Ó Fogo dos raios, em nome de Nyx eu vos invoco,
Portador das tempestades e forças da magia,
Peço vossa ajuda no feitiço que aqui trabalho!
 
Estava na cara que ela decorou as falas e praticou muito para dizê-las ali, era forçadamente sensual, eca!
Virando para o oeste, de muito mau humor, parei para invocarmos a Água.

Ó torrentes de chuva, em nome de Nyx eu vos invoco,
Acompanhai-me com vossa força inundante na realização
Deste Ritual, de todos o mais poderoso!

Em direção ao sul, esperei pela invocação da Terra.

Ó Terra úmida e profunda, em nome de Nyx eu vos invoco,
Para que eu possa sentir o movimento da própria terra
No rugido de um trovão de poder
Que vem quando me ajudais neste rito!

Finalmente, Afrodite se dirigiu ao centro do círculo com a vela roxa, para invocar o Espírito.

Ó Espírito livre e selvagem, em nome de Nyx eu vos invoco a mim!
Responda-me! Fique comigo durante este poderoso Ritual
E conceda-me o poder da Deusa!

Ela estava inspirada isto era óbvio, e de longe se parecia com Neferet, não sei se ela sabia disso ou não. Mas resolvi não dar bola e simplesmente deixei passar, eu não queria mais pensar em Afrodite, não iria perder meu tempo com isso. Portanto quando ela começou a andar ao redor do círculo com a taça onde seria oferecido o vinho com sangue para cada um e dizer as palavras que sempre marcavam o Ritual eu estava mais do que calmo, pude sentir minha tranquilidade sob meus poros e não me importei nem um pouco com o seu jeito metido e arrogante, eu a apaguei completamente.
- Este é o momento em que a lua de nossa Deusa está mais cheia. Há magnitude nesta noite. Os antigos sabiam os mistérios desta noite e a usavam para se fortalecerem... Para romper o véu entre os mundos e se aventurar de um modo que hoje em dia apenas sonhamos. Secreta... Misteriosa... Mágica... Autêntica beleza e poder em forma de vampira, intocada pelas leis e regras humanas. Nós não somos humanos! – ela praticamente berrou – e tudo que seus Filhos e Filhas das Trevas pedem hoje neste rito é o que temos pedido em todas as luas cheias de um ano para cá. Libere nosso poder interno para que, como os poderosos felinos da floresta, tenhamos a flexibilidade de nossos irmãos animais e não estejamos ligados por laços humanos e nem aprisionados por nossas fraquezas e ignorâncias.
As suas palavras seriam lindas se eu não soubesse exatamente o que ela pensava, ela não queria que Nyx libertasse as Filhas e os Filhos das Trevas de sentimentos humanos fracos, ela queria toda aquela raça morta! Afrodite odiava a raça humana mais do que qualquer outra coisa. Várias e várias vezes tentando esconder suas visões para que nenhum pudesse ser salvo. Eu realmente não sabia por que ela era assim, ela já fora um deles, todos nós fomos, não existia razão para possuir tanto ódio. Mas era Afrodite, afinal de contas.
Naquela hora ela estava parada bem em frente à Zoey e oferecia a ela a taça de vinho com sangue.
- Beba, Zoey Redbird – disse Afrodite – e junte-se a nós pedindo a Nyx o que é nosso por direito de sangue e de corpo, e da Marca da grande Transformação, a Marca com a qual ela já lhe tocou.
Eu achei que Zoey iria recusar, era o que eu teria feito se soubesse da existência do sangue em meu primeiro Ritual, mas aparentemente ela não se importou, pois pegou a taça das mãos de Afrodite e bebeu um longo gole avidamente.
- Abençoada seja – murmurou Afrodite.
- Abençoada seja – Zoey respondeu.
Rapidamente, Afrodite foi levando a taça para cada um dos Filhos e Filhas das Trevas, todos foram tomando um pequeno gole da bebida e quando chegou a minha vez ela piscou e disse sussurrando:
- Não foi tão ruim, foi?
Eu não sabia ao certo se ela falava do seu desempenho ou de Zoey, eu apenas acenei em concordância, deliciando-me com o gosto do sangue misturado ao vinho, mesmo que fosse do nojento Elliot.
Ela me lançou um sorriso e continuou a passar a taça e quando finalmente todos deram um gole, ela a ergueu sobre a cabeça.
- Grande e mágica Deusa da Noite e da Lua Cheia, que cavalga trovões e tempestades conduzindo os espíritos e os Antigos, bela e assombrosa, a quem até os mais antigos devem obediência, ajude-nos no que pedimos. Encha-nos com seu poder, sua magia e sua força! – ela bebeu o que restava da taça e quando a música voltou a tocar começou a dançar novamente. – Merry Meet e Merry Part e Merry Meet outra vez! – disse enquanto apagava as velas e agradecia aos elementos. Todos nós respondemos avidamente e eu fiquei feliz pelo Ritual ter acabado.

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