domingo, 12 de maio de 2013

Marcada - Por Erik Night (nono capítulo)

Oi, deixo o nono capítulo da Fic Erik Night, atrasadíssima, sei disso. Enfim, espero que gostem.


Voltei para as últimas duas aulas, distraído, pensar que Zoey talvez estivesse no Ritual me deixava feliz, com a cabeça leve. O que era realmente estranho, afinal de contas eu nunca tivera chances reais de falar com ela, as únicas notícias que eu sabia eram as que meus amigos me contavam, ou as que eu questionava sorrateiramente por aí.
Naquele momento eu estava decidindo se eu iria tentar alguma tática nova ou não. O Ritual seria uma bela desculpa e um ótimo começo de assunto para chegar nela, e então eu poderia usar meu sorriso 100 watts, o que com certeza a deixaria louca por mim, como todas as outras haviam ficado.
Mas e o que eu faria depois? O que será que ela diria?
Eu estava me sentindo muito como Drew naquela hora, e por mais que eu não quisesse admitir, eu o entendia... Mas só um pouco.
No instante em que me sentei na cadeira Neferet entrou, ela era a Alta Sacerdotisa da House of Night e quem dava as aulas de sociologia vampírica. Ela era excepcionalmente bela, assim como todas as vampiras, mas de alguma forma ela se destacava das demais, havia uma imponência cordial em tudo o que fazia, juntando ao fato de ter um esbelto e delineado corpo cheio de curvas e belos peitos, seus cabelos vermelhos davam a ela uma aparência exótica.
Confesso que eu adorava as aulas dela, e não era por causa de sua aparência, eu não era tão superficial, embora ela fosse extremamente matadora. Eu apenas gostava da matéria e da sua forma de ensinar. Também não havia nenhum dos meus amigos naquela aula, o que me fazia prestar 100% de atenção no que ela dizia, e me permitia viajar um pouco.
Naquela noite aprendemos sobre como a relação de vampiros e humanos em umimprint, funcionava, e embora eu me recordasse vagamente de já termos estudado isso, não pude deixar de me deliciar com o assunto.
–Tomem cuidado ao estudarem essa matéria, pois ela pode ser um pouco confusa, oimprint geralmente é mais forte quando imposto por um vampiro adulto, mas não impede vocês, calouros, e principalmente os quintos-formandos e sextos-formandos, que estão quase chegando ao final da Transformação, de correrem esse risco. E se vocês acompanharem o texto da página 243 do manual do novato 415, verão que esse estudo não diz corretamente por que algumas pessoas são mais suscetíveis do que outras. – Então ela fez uma pequena pausa, olhando para uma menina que estava vidrada na página – Katherine querida poderia ler para nós o que está escrito?
– Claro – Ela respondeu entusiasmada. E se concentrando começou – Imprint: um imprint entre um vampiro e um humano não ocorre cada vez que um vampiro se alimenta. Muitos estudos foram feitos para tentar determinar exatamente porque alguns humanos sofrem imprint e outros não, mas apesar de existir vários fatores determinantes, o mesmo como uma ligação emocional, relações entre humanos e vampiros recém transformados, idade, orientação sexual, e a frequência de sangue sugado, não é possível predizer com certeza caso um humano irá possuir o imprint com o vampiro ou não.
– Muito bem, alguma opinião a respeito do texto lido agora?
Várias pessoas levantaram suas mãos, eu não fui uma delas, mas ela olhou para mim nessa hora com uma expressão curiosa.
– Erik, nos diria o que aprendeu depois de ler o texto?
– Ahn...
Exitei um pouco ao responder, pois havia sido pego de surpresa. Os demais estudantes deram curtas risadinhas.
– A turma está lhe esperando, Erik – disse Neferet. Ok, não era tão difícil assim demonstrar minha opinião, vamos lá Erik! Deixe de ser tão medroso!
Endireitei-me na cadeira, indo um pouco para frente, e respirei fundo, tentando organizar uma resposta coerente, afinal ela era a Alta Sacerdotisa, não podia dizer qualquer besteira.
– Acho que todos nós devemos tomar muito cuidado na hora de sugar o sangue de qualquer humano, afinal de contas eles têm menos resistência e ficam suscetíveis a uma vida que não querem, como toda a capacidade de saber o que o vampiro está sentindo, por exemplo. Isso deixa um laço muito forte e provoca terríveis consequências caso seja usado de maneira incorreta.
– E qual seria essa maneira incorreta? – perguntou Neferet, curiosa.
– Acho que os vampiros jovens, ou mesmo os calouros, que ainda não passaram pela mudança, são muito mais irresponsáveis e acabam não levando tão a sério, como deveriam. A maioria acha que é apenas divertimento, mas isso mexe com a cabeça do ser humano e, muitas vezes, provoca traumas, afinal alguns deles têm medo de nós.
– Muito bem, Erik – Ela me deu um sorriso orgulhoso – é verdade que os seres humanos não têm a menor consciência do esplendor da nossa raça e perdem tempo tendo medo dos que não oferecem mau algum, mas infelizmente a sociedade de hoje utiliza meios irônicos para retratar os vampiros, como vemos seguidamente em séries de TV ou filmes, enfim, eles não estão preparados psicologicamente para ter um laço desta magnitude com os vampiros. É por isso que cada vez mais separamos esses elos e quase ninguém é aconselhado a formar um.
Conforme Neferet falava, um brilho estranho apareceu em seu olhar, manchando seus olhos verde musgo de negro, a princípio me deu arrepios, mas pude entender o quanto ela devia estar cansada daquelas coisas banais que os humanos criavam. Ela, assim como muitos na House of Night, estava cansada de tentar camuflar a existência dos vampiros para acalmar as reviravoltas humanas.
Ela olhou em seu relógio de pulso com uma cara ranzinza e disse:
– Bem, está quase na hora, portanto gostaria que pesquisassem mais a fundo sobre este tema e fizessem um pequeno trabalho de dez páginas para semana que vem, mas não se esqueçam de colocar também suas opiniões pessoais sobre cada tema e de onde tiraram a pesquisa, está bem? – o sinal bateu – acho que é isso, podem sair. – Ela fez um gesto com as mãos em direção a porta. – Espero por todos no Ritual, Merry Meet.
Todos nós concordamos e saímos em direção ao corredor, eu enfim segui para minha última aula, e a mais exultante de todas, devia admitir.
Quando passei pela porta e vi Nolan, não pude deixar de sorrir e acenar um olá, como sempre fazia desde que me lembrava, assim que entrei na House of Night e me apaixonei por sua interpretação de Otelo (sua obra favorita de Shakespeare) para a turma de recém-chegados.
Logo avistei Cole que estava sentado e distraído lendo suas falas, ou assim eu achava, e não me percebeu entrando na sala. Logo levou um tremendo susto quando eu cheguei com muito barulho e sentei com tudo na cadeira ao seu lado.
– Puta merda, Erik! – Gritou confuso, e mais baixo rosnou: - Tinha que fazer isso agora? Não está vendo que eu estava trocando bilhetinhos com a gatinha da Sophia bem ali atrás? – E apontou a garota ruiva com poucas sardas que estava logo atrás de Cole, ainda gargalhando do susto que Cole havia levado. Ok, eu também ri como um idiota, mas a garota estava debochando de Cole.
– Ah, deixa disso – sussurrei de volta – você está melhor sem essa aí.
Acho que ela acabou ouvindo a minha resposta, pois de repente sua expressão risonha se tornou uma carranca e ela puxou sua amiga e começou a cochichar coisas que eu adoraria não ficar sabendo. É... Definitivamente uma idiota.
– Tudo bem – retribuiu Cole, que também havia visto a cena – qualquer dia eu arrumo uma garota melhor.
– É e pode...
– Silêncio agora, todos vocês – Disse Nolan, fazendo com que a turma ficasse em silêncio instantaneamente. – Hoje tenho certeza que irão gostar desta aula... - Cole fingiu uma tosse e disse: Shakespeare. Mas Nolan continuou dizendo - Lorde Byron. - Eu só pude dar uma risadinha antes de prestar atenção na aula.
– Como todos sabem Lorde Byron foi um importantíssimo poeta inglês do século XIX. E mesmo assim resolvi introduzir um de seus poemas nesta aula. Ele se chama Oh! Na flor da beleza arrebatada.

“Oh! Na flor de beleza arrebatada,
Não há de te oprimir tumba pesada;
Em tua relva as rosas criarão
Pétalas, as primeiras que virão,
E oscilará o cipreste em branda escuridão.
E junto da água a fluir azul de fonte
Inclinará a Tristeza a langue fronte
E as cismas nutrirá de sonho ardente;
Pausará lenta, e andará suavemente,
Como se com seus passos, pobre ente!
Os mortos perturbasse, mesmo levemente!
Basta! Sabemos nós que o pranto é vão,
Que a morte, à nossa dor, não dá atenção.
Isso fará esquecer-nos de prantear?
Ou que choremos menos fará então?
E tu, que dizes para eu me olvidar,
Teu rosto acha-se pálido, úmido esse olhar.”

– Quero que façam uma análise do poema, retratando seus sentimentos e lamentações, ou mesmo críticas, se acharem que há alguma. Vocês terão algumas aulas para isso, mas eu quero que me apresentem o monólogo com as suas ideias sobre ele. Podem começar.
E foi o que fizemos!
Me concentrei muito naquela tarefa, tentando realmente desvendar o que Byron quis dizer com aquelas palavras tão lindas e imaculadas. Será que estava triste quando o escreveu? Ou estava tão irritado com a injustiça daquele mundo? Por tirar dele o que parecia ser o seu amor.
E tudo isso era tão engraçado, me fez chegar a triste conclusão de que quanto mais feliz se está, por mais eufórico e sonhador que se esteja nada disso basta quando a terrível queda espreita. Como se estivesse em equilíbrio, em uma balança. Igualando felicidade com dor. Afinal essa é a moral do mundo, não é?!
Mas então por que se vive? Para sofrer, sofrer, sofrer... E depois nada?
Eu tinha certeza que minha vida não podia ser assim!
Se eu um dia me apaixonasse novamente, queria ter a certeza de que ela era a garota certa, nada como as vacas estilo Afrodite.
Parei de escrever quando percebi Nolan ao meu lado, ela estava espiando meu trabalho e se assustou um pouco quando eu o cobri com as mãos.
– Não, professora Nolan, este aqui é surpresa!
– Oh, Erik. Você sempre me surpreende. Não importa o quanto eu espere de você, sempre dá um jeito de se sobressair.
– E este poema é perfeito professora Nolan! Estou mais inspirado que nunca.
– Fico feliz, e bem... – Colocou seu dedo indicador no queixo, pensativa, depois se dirigiu à turma toda – pessoal, vou recitar mais um poema para vocês, acho que estão bastante inspirados hoje e merecem mais uma palhinha de Lorde Byron. Este é surpreendentemente assustador, mas é delicioso como todos os outros:

“A uma taça feita de um crânio humano
Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás – pobre caveira fria
–Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
Vivi! Amei! Bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! Empina-me!... Que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
Mais vá guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
– Taça – levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto de réptil.
Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro...
Podeis de vinho encher!
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor aí repousa?
É bom fugindo à podridão do lado.
Servir na morte enfim pra alguma coisa!...”

– É simplesmente magnífico não?
A turma estava sem palavras, vi de relance algumas garotas com cara de nojo.
– Mas professora Nolan, isso fala de cérebros e entranhas e... Eca! Que nojento. – Disse Sophia lá de trás.
– Vocês não conseguem entender toda a linguagem teatral que isso trás? Não podem... - o sinal que finalizava as aulas soou e fez Nolan parar abruptamente o que estava dizendo – bem, acho que terão de esperar para discutirmos mais sobre as ideias de Lorde Byron na próxima aula, mas eu quero que releiam um pouco o que já vimos e decidam com o que se identificam mais. Estão dispensados e Merry Meet para todos.
Todos nós retribuímos o aceno e o coro de Merry Meet’s fez a professora Nolan dar uma leve gargalhada.
Quando saímos da sala, eu e Cole fomos esperar os outros antes de irmos ao Ritual de Lua Cheia, como sempre fazíamos desde que nos tornamos amigos. Eu estava me sentindo extremamente excitado, o Ritual era sempre tão divertido, e não era como se eu fosse fanático nem nada, mas eu gostava de me sentir um pouco mais perto de Nyx.
– Sabe o que é tão irritante nesses Rituais? – perguntou-me Cole.
– Não, o quê? – Quis saber.
– O fato de que todas aquelas professoras tem um talento super maneiro como, tipo, invocar os elementos, e eu e você só ficamos lá tentando imaginar o quão legal seria ter algo parecido.
– Mas você queria invocar a Terra para poder plantar mais florezinhas no seu jardim, querido?
– Não use essa voz de gay pra cima de mim, Erik! Você entendeu o que eu quis dizer, nós temos talentos tão inúteis. Diga o que há de bom em saber atuar.
– Acho que você está sendo muito mal agradecido, Cole.
– E por quê?
– Ora, Nyx foi muito gentil em lhe dar esse talento. Conhecendo você como eu, não teria confiança suficiente para tal coisa.
– Há, muito engraçado! Eu sou muito merecedor do meu talento, fique sabendo, mas ás vezes eu acho que as garotas ficam com as habilidades mais legais.
– Pense o que quiser, mas eu não iria gostar de ter qualquer outra habilidade, lembra-se do último Rastreador? Você acha que receber essa função é legal? Eu odiaria ter que correr atrás desses adolescentes medrosos e “arruinar” suas vidas – fiz aspas no ar – eles não sabem realmente o que estão perdendo.
– E é por isso que têm medo, porque não sabem melhor.
– Quem não sabe melhor? – Perguntou TJ, chegando sorrateiramente pelas nossas costas e enfiando seu rosto no meio das nossas cabeças, fazendo eu e Cole darmos um salto no banco. Ele caiu na gargalhada imediatamente, assim como Thor e Drew, que vinham logo atrás.
– Caramba, não faça isso TJ, seu idiota. – Xingou Cole. – Já bastou Erik ter me feito quase mijar nas calças de susto mais cedo.
– Que pena – retrucou TJ, - iria ser hilário ver sua calça molhada – e continuou rindo – mas então, quem não sabe melhor? Do quê estavam falando?
– Dos humanos que são Marcados – Respondi por Cole, que ainda estava olhando de cara feia para TJ, que o estava ignorando. – Eu estava dizendo o quão horrível seria ser um Rastreador.
– Oh, isso! – disse TJ – eu acho que seria legal, imagina se eu pego uma gatinha?
– Ah, só pensa nisso – disse Drew, - E se você por um acaso se perdesse em algum lugar e fosse assassinado? Seria legal?
– Meu Deus Drew, você é pessimista demais! Eu não acho que iria ser assassinado ou algo assim.
– É só uma hipótese – Drew encolheu os ombros – mas já que estamos todos aqui, que tal irmos ao Ritual de uma vez?
– É, se conseguirmos chegar em 45s, talvez eles não fechem as portas na nossa cara – disse Thor, olhando seu relógio, - bem, agora são 40s, 39s...
– OK, vamos logo! – gritei.
Todos nós saímos correndo desesperados para o Ritual, com Thor logo atrás contando os segundos:
– 34s, 33s, 32s, 31s...
– Quer parar com isso? – gritou Drew – você está me deixando maluco!
– Desculpe... 28s.
Quando chegamos a enorme porta de madeira do Templo, faltavam 15s para se fecharem.
– Pontuais – bradou Anastasia Lankford, que estava recepcionando os alunos ao Ritual e marcando suas testas com o pentagrama, ela mergulhou seu dedo na tigela de pedra e traçou a estrela em minha testa – Abençoado seja, Erik.
– Abençoada seja – respondi as familiares palavras.
Observei enquanto os outros eram marcados e fomos rapidamente para o centro do Ritual, pegando lugares um pouco afastados, graças ao atraso infeliz.
– Ei pessoal, eu acabei me esquecendo de contar pra vocês, sabiam que uma caloura morreu hoje? – Disse TJ.
Todos ficamos surpresos.
– Quem foi desta vez? – Perguntei.
– Aquela tal de Elizabeth Sem Sobrenome – Deu uma risadinha – Coitada né?
– E mais um que rejeita a mudança. – Disse.
– Ah, mas isso faz parte da vida aqui na House of Night, todos deveríamos estar acostumados com isso – murmurou Thor.
– É, pode acontecer com um de nós. – confirmou Cole.
– E vocês iam gostar se um de nós morresse e os alunos ficassem dizendo para esquecermos? – indagou Drew, indignado. – Não acho que deveríamos agir assim, além do mais, eu quero prestar atenção ao Ritual se não se importam.
Inconformado, percebi que o Ritual estava prestes a começar, pude ver Loren Blake, o Poeta Laureado da House of Night, já recitando as primeiras palavras de seu poema que iniciaria o Ritual.

“Ela passeia sua beleza, como a noite
De firmamento sem nuvens e céus estrelados
E o que há de melhor das trevas e da luz
Se encontra em sua aparência e em seus olhos
Assim amolecida pela terna luz
Que o céu nega ao ruidoso dia.”

A sorte daquele cara era a de que hoje eu estava bem calminho em relação aos poemas de Lorde Byron.
E como todas as vezes, Neferet entrou misteriosamente e no segundo em que o poema terminou estava no centro do círculo, saudando a todos.
– Filhos de Nyx, bem-vindos à celebração de Lua Cheia da Deusa!
– Merry Meet! – Disseram todos.
Mas eu não prestei muita atenção. Na verdade as palavras do poema me lembraram de que talvez Zoey estivesse no Ritual, o que me deixou meio ansioso, eu procurava insistentemente por ela, mas não a encontrava em lugar algum.
Será que estava com medo? E se não aparecesse no Ritual de Afrodite? Eu não conseguia me decidir se aquilo era bom ou ruim.
Só parei de procurar por ela quando Drew me deu um beliscão no braço e me forçou a virar na direção leste, para invocar o Ar. Eu nem mesmo havia percebido o tempo passar. E eu que estava com planos de me conectar com Nyx, fala sério, Erik!
Me forcei a fechar os olhos e me concentrar nas palavras de Neferet, tentando mandar toda a minha energia para invocar o elemento.

"Do leste eu invoco o Ar e peço que sopre neste círculo o dom da sabedoria para que nosso Ritual seja repleto de aprendizado."

Instintivamente virei-me para a direita, na direção do sul, para invocar o Fogo.

"Do sul eu invoco o Fogo e peço que acenda neste círculo o dom da força de vontade para que nosso Ritual seja coeso e poderoso."

Em seguida virei-me para o oeste, para invocar a Água.

"Do oeste eu invoco a Água e peço que lave este círculo com compaixão para que a luz da Lua Cheia possa ser usada para conceder o dom da cura ao nosso grupo, e também o dom do entendimento."

Depois de a vela azul ser oferecida virei-me para o norte, invocando a Terra.

"Do norte eu invoco a Terra e peço que faça crescer dentro deste círculo o dom da manifestação e que os desejos e preces desta noite deem frutos."

Virei-me enfim para o último elemento do Ritual, mas não o menos importante, desta vez parado no meio do círculo, para invocar o Espírito.

"E finalmente invoco o Espírito para completar nosso círculo e peço que nos preencha de conexão para que nossas crianças possam juntas prosperar."

Inacreditavelmente me sentia muito mais leve depois da invocação dos elementos. Era assim que eu sempre ficava depois dos Rituais, bem... Depois dos Rituais de Neferet. Calmo, tranquilo, mais perto de Nyx.
– Este é o momento de Lua mais completa. Todas as coisas crescem e minguam, até mesmo os filhos de Nyx, seus vampiros. Mas nesta noite os poderes da vida, da magia e da criação estão em seu ponto máximo – como a Lua da nossa Deusa. Este é o momento de construir... De fazer. Este é o momento quando o véu entre a realidade mundana e os belos e estranhos domínios da Deusa torna-se muito fino e delicado. Nesta noite é possível transcender as fronteiras entre os mundos com facilidade e conhecer a beleza e o encanto de Nyx.
As palavras de Neferet me esbaforiam, eu sempre ficava arrepiado ao pensar na Deusa, e arrependido de ter pensamentos e atitudes tão infames às vezes. Mas ao mesmo tempo, bem... Eu não era perfeito, para isso eu vinha aos Rituais e pedia sempre por conforto, para Nyx me perdoar por tudo aquilo que fazia de ruim. Pensei também em Elizabeth, eu mal a conhecia para ficar triste, mas com certeza alguém a conhecia, alguém estava chorando por ela. Estava sofrendo por sua morte. Talvez ela fosse legal, talvez não. O mais triste de tudo era que eu nunca iria descobrir.
– Este é o momento de tecer o etéreo na matéria viva, de fiar as tranças do espaço e do tempo para que se faça a Criação. Pois a vida é um círculo, bem como um mistério. Nossa Deusa entende isso, assim como entende seu consorte Erebus. – Luz... Escuridão... Dia... Noite... Morte... Vida... Tudo está ligado pelo espírito e pelo toque da Deusa. Se mantivermos o equilíbrio e respeitarmos a Deusa, podemos aprender a fazer um feitiço de luar e com ele dar forma a um tecido de pura substância mágica que permanecerá conosco todos os dias de nossas vidas. – Fechem os olhos, Filhos de Nyx.
Instantaneamente fechei os olhos.
– E mandem seu desejo mais secreto para sua Deusa. Esta noite, quando o véu entre os mundos é mais fino e delicado, quando a magia está contida no mundano, quem sabe Nyx lhes conceda seus pedidos e lhes salpique com a névoa diáfana dos sonhos realizados.
Pensei em um pedido para fazer a Nyx. Eu já tinha muitas coisas que queria, não precisaria de mais. Eu tinha minhas habilidades com o teatro, meus amigos, garotas... Boas notas.
Então quero pedir a você, Nyx, se estiver me ouvindo agora... Sei que muitos calouros estão fazendo seus pedidos ao mesmo instante, mas creio que com seu grande poder poderá escutar este miserável mortal aqui. Eu gostaria que tudo que eu conquistei e superei até hoje continue como está, peço apenas mais proteção aos meus amigos e a todas as pessoas que amo, mesmo que sejam humanas. E é isso, obrigado Nyx.
Nunca sabia se essas orações davam certo, mas mesmo assim não temia em tentar. Eu confiava na bondade de Nyx e sabia que ela protegeria meus amigos. Neferet começou a falar novamente, mas Thor virou-se para nós e disse num sussurro:
– Gente, tá na hora de irmos, ou Afrodite vai pirar. Digo, se nos atrasarmos.
– Ok. – Dissemos em coro.
Em Rituais de Lua Cheia sempre saíamos mais cedo que os demais, para recepcionarmos os calouros convidados, que não eram muitos, Afrodite queriaexclusividade. Por isso nos apressamos em sair sorrateiramente e sem atrapalhar os outros, apenas quem estava mais atrás percebeu nossa fuga.
Quando chegamos à frente da construção Enyo, que estava batendo seu pé impacientemente, provavelmente à nossa espera, bufou alto depois de nos ver e disse numa voz afetada:
– Finalmente, pensei que não chegariam. Meninos vão para dentro se trocar já, e Erik, hoje é sua vez de recepcionar os convidados.
Bufei em protesto.
– Mas eu já fui na última vez!
– E qual é o problema em ir novamente? – perguntou Drew, sua expressão estava muito estranha – Não quer recepcionar os novos convidados? Você é tão bom nisso.
Estava prestes a revirar os olhos quando finalmente entendi o que Drew estava tentando me dizer, os novos convidados, ou a nova convidada, seria Zoey.
– Tá, tudo bem... Eu fico na entrada.
– Ótimo, mas deve se trocar primeiro, suas roupas estão lá no banheiro, assim como a de vocês, meninos. Agora vão! – Seguindo suas ordens, fomos correndo para o banheiro, nos trocamos tão rápido que eu nem mesmo notei.
De repente fui ficando muito ansioso, com um repentino frio na barriga. Que estranho.
Quando saí do banheiro, às pressas, acabei esbarrando sem querer em alguém... Afrodite.
– Oi Erik – Disse com a voz melosa.
– Oi Afrodite, está tudo certo por aqui? Precisa de mais alguma coisa?
– Não, as meninas já cuidaram de tudo. É só esperar ali até que todos cheguem.
– Não posso, tenho que ficar na entrada recebendo todos! – disse meio que me desculpando. No fundo eu estava eufórico.
– Mas achei que já tinha feito isso da última vez!
– Eu sei, mas ninguém quis ficar lá, e como não me importo muito com isso, decidi dar uma forcinha.
– Mas... – Ela estava furiosa. – Eu não mandei que ficasse lá fora, quem foi o estúpido que falou com você?
– Afrodite, não precisa exagerar! Não tem problema, realmente. Eu até gosto de ficar lá fora, e tem mais, se Zoey vier mesmo ao Ritual, será bom que um dos idiotas ali não a recepcione, é capaz de ela sair correndo de susto.
– Seria melhor... Ah... – Olhei-a furtivamente e ela meio que se encolheu, como se tivesse falado besteira, logo remendou – Quer dizer... Você sabe... É meio assustador da primeira vez, talvez seja melhor que ela venha com a mente aberta?!
Nem mesmo ela sabia o que dizer. Não acreditei muito na sua desculpa, mas fingi que sim, ela pareceu aliviada por eu ter acreditado. Isso acabou me lembrando algo.
– Afrodite?
– Sim?
– Você falou com ela sobre o sangue, não é? Lembra que conversamos sobre isso mais tarde?
– Claro. Mas eu ainda não tive a chance de falar com ela, sabe como é... O Ritual me deixa realmente muito ocupada. Temos que arrumar tudo, conseguir a comida, as roupas...
Ela parou de falar de repente, como se estivesse querendo que eu completasse sua frase. Foi aí que eu percebi no que ela realmente estava vestida.
Afrodite usava um longo vestido preto, ele brilhava conforme ela andava e se movimentava. E estava colado ao seu corpo, delineando cada curva, para finalmente abrir um perfeito decote, expondo a parte superior dos seios. Realmente... Estava intoxicante.
Se eu fosse o Erik de antes, não resistiria a ela, me entregaria e faria tudo o que ela ordenasse. Mas eu estava um pouco mudado, de olhos abertos, não me focaria mais em banalidades, ou bem... Certas banalidades.
– Ok, eu entendo. Mas vai falar com ela quando exatamente?
– No banheiro, quando ela estiver se trocando. Sim, porque ela não poderá assistir ao meu Ritual vestindo aquelas roupas ridículas. E eu aposto que ela nem se tocou em trazer uma nova, melhor, aposto que ela não tem algo a altura.
– Qual é Afrodite, a garota é nova. Dá um tempo. Mas eu vou indo antes que o pessoal chegue.
– Tudo bem. – disse revirando os olhos. – pode recepcionar sua novata.
Ficar na porta era meio entediante. Tinha que desenhar o pentagrama com aquela meleca gosmenta na testa de todos que entrariam e dizer os Merry Meet’s e abençoado seja necessários. Mas eu preferia ficar ali fora do que no lado de dentro com Afrodite.
Algumas pessoas vieram correndo do Ritual de Neferet, já vestidas de preto, já outras...
Como Zoey Redbird, que vinha andando calmamente e com a expressão muito assustada e curiosa. Prendeu minha atenção instantaneamente, todos os seus detalhes foram captados ao mesmo tempo, seu cabelo escuro e comprido, seu rosto, seu corpo... De uma forma diferente de Afrodite, Zoey não andava para chamar atenção, seus passos eram leves, perdidos, mas ainda sim seguros. Eu adorei.
Percebi que ela ainda não havia me notado, o que era estranho, mas decidi desviar sua atenção dos carvalhos mesmo assim.
– Merry Meet, Zoey.
Ri internamente quando ela me olhou assustada, completamente alheia à minha presença, como eu havia suspeitado. Ela não disse nada, nem eu. Estava meio paralisado, tinha que fazer algo, mas não lembrava exatamente o que... Calma Erik, é só uma garota, linda Ok, mas mesmo assim. Molhei meu dedo no óleo gosmento e tracei o pentagrama na sua testa delicadamente, sentindo a textura macia de sua pele. Quando terminei meus dedos coçaram, de um jeito bom.
– Abençoada seja – eu disse. Minha voz em nada transparecia meus sentimentos confusos.
– Abençoado seja – ela respondeu instantaneamente.
Ficamos ali, olhando um para o outro, sem dizer nada. Eu pude sentir seu perfume doce e agradável enquanto a observava, notei que ela também me analisava.
– Pode entrar – disse por fim, tirando-a de seus pensamentos. Fosse lá o quê prendesse sua atenção.
– Ah, ahn, obrigada – disse ela com leveza.

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